30.4.10

Maria Tereza do livro Negrices em flor nos deixou.




Soube pelo Robson Canto, hoje através de um comentário dele, que a escritora Maria Tereza do livro Negrices em flor, faleceu em São Paulo. Queria me desculpar aos manos e minas, pela minha falta de informação, é que não noticiei antes, por quê simplesmente só soube hoje do ocorrido, e acredito que mais do que uma fatalidade, é uma flor da literatura que nos deixou e deixou uma sementinha plantada na nossa literatura marginal/periférica/afro.

Tem um trecho do livro dela, que eu me lembro muito bem, fala sobre bolinhos de lama que ela fazia no quintal de sua casa. Esses humildes trechos de um livro, nos faz sentir o cheirinho de café e bolo que nossa mãe fazia quando a gente era pequeno.

O Robson Canto tem razão quando fala de nossa sensibilidade, a gente as vezes tá na maior correria, só cuidando de nossos problemas pessoais, de nossa vida pessoal, e tem pessoas importantes que estão nos deixando, e não tendo o reconhecimento merecido e necessário que elas merecem. Queria agradecer ao Robson pela informação, e por ele continuar sendo essa pessoa humana que ele é. E que Deus a tenha em um bom lugar, Maria Tereza. è nóis, continuando na caminhada.

29.4.10

Inocente

Inocente

Inocente,
Foi o que metralhou o gerente,
Ele não sabe, não entende,
Por quê agora cumpre 20, penitente.


Renato Vital é poeta

26.4.10

Alcatéia - Direto do Jardim Capela


Cara, sinceramente de uns dois anos pra cá, tem dois grupos que me chamaram a atenção como revelação. Não que os outros sejam ruins, mas é que tem uns grupos que te cativa mais. Os dois grupos que me deixaram admirado são: o Mano Emicida e o Alcatéia.
Pra mim são duas grandes revelações, que ainda vão fazer muito barulho no cenário do RAP NACIONAL. Os demais grupos que eu não citei, tem minha admiração também, mas foi como eu disse, " de dois anos pra cá", os outros eu já conhecia de mais tempo.

Hoje vou fazer um especial sobre o Alcatéia, direto do Jardim Capela.

Biografia

O grupo Alcatéia foi formado por Cleyton e Rafael no bairro do Jardim Capela no extremo sul da capital paulista no ano de 2000, desde o inicio sempre tiveram a amizade e apoio do Moysés A286.

Atualmente os integrantes do grupo são Cleyton , Rafael e DJ R15.
O primeiro CD do grupo está sendo produzido por ERICK 12 um dos grandes produtores no cenário do rap no estúdio Reviravolta Mafia e o lançamento está previsto para este ano,o cd que vai se chamar “ALCATÉIA “US VERDADEIROS NUM CAÍ” um titulo que expressa bem todos esses anos de caminhada e superação que o grupo teve até conseguir gravar seu primeiro trabalho, e para contemplar essa vitoria o cd terá as participações especiais de grandes nomes do Rap Nacional : Gaspar (Z’África Brasil), Dimenó (Alvos da lei), Daniel (Ordem Própria), Ivan e Moysés (A286), Erick 12 e Betão (QI Racional), e na parte fotográfica tem a participação do fotógrafo: Max Nogueira.


Músicas do grupo Alcatéia






Na missão

24.4.10

Mesmo quando caem

Mesmo quando caem

Mesmo quando as folhas caem
A àrvore continua no lugar
Ela está preparada pra te dar
Frutos e oxigênio pra respirar

Mesmo quando caem os heróis
A terra semeia novos pra lutar
Por que o caminho é intenso
E tem muitos pra continuar

Mesmo quando caem os brutos
Outros irão voltar
Em outras formas, outras maneiras
Outros meios de matar

Mesmo quando caem as babilônias
Outros irão se levantar
Por quê o mundo é redondo
Mas não é a bola que você pode chutar

Mesmo quando caem as casas
No Rio, No Haiti qualquer lugar
È preciso erguer a cabeça
E reconstruir novas pra morar

Mesmo quando caem as estrelas
Recolha, elas precisam estrelar
Estrelar o seu caminho
Por que é preciso a vitória alcançar

E eu sei, que se você for persistente e forte, com certeza alcançará.
Pois a verdadeira vitória, é viver pra vencer e pra sonhar.

Renato Vital é escritor e poeta também.

23.4.10

O último conto da saga de Ditinho

Pessoal, acabei de escrever o último conto da saga de Ditinho pro blog. Esta no post abaixo. Essa minha decisão, se deve, por que vou juntar os contos e escrever um único livro. Por isso esse conto do Ditinho foi o último, por enquanto... Abraços a todos.
Cooperifa eu vos amo.

22.4.10

Patrícia chega em casa

Virou a tranca, abriu a porta, a porta bateu atrás dela. Foi pro seu quarto, correndo, entrou, fechou a porta, e deu pulos de alegria e excitação. E no centro do seu pensamento, um filme se passando, e ela imaginando:

Nossa, o Magalhães é uma delícia na cama, prestativo, carinhoso, quente, caloroso, nossa como ele é caloroso. Gostaria de ter ele, só pra mim, aqui comigo, a hora que eu quisesse. Imagina, só bebida cara, só luxo, só serviço de qualidade, serviço de primeira. Meu namorado tá me esperando, mas quero que ele se dane. Hoje vou chegar atrasada só de bronca. Ele não tem o que o Magalhães tem, ele é um zero à esquerda, um bosta, um falido. Mas o Ditinho, ah o Ditinho, esse me paga, me humilhou, como ele pode.

Ditinho abre a porta de casa, vai até a cozinha abre a geladeira, e pensa em colocar uma placa dentro dela: " falida". Abre a carteira, tem dez reais dentro, e tinha que arrumar 50 reais até o fim de semana, pois no fim de semana levaria sua mina pra praia. Desde que o Tevez entrou em coma, ele vinha usando sua moto. A fome aperta, e não tem outra alternativa, se não ir até a padaria, comprar um real de pão e um e cinquenta de mussarela. Segunda faria as compras, ou melhor, compraria algumas coisinhas. Ditinho vai até a padaria, comprar o lanche da noite. Duas minas passam ao lado dele, uma delas o observa e pisca pra ele. Ele pensa: " Na época que eu era solteiro ou na época que eu namorava a Cristina, não tinha essa sorte, inda bem que minha mina é firmeza".

Aconteceu dois dias atrás, ele estava sozinho comigo na sala onde ficam os arquivos da empresa. Ele estava a procura de algum documento, e eu entrei sem que ele percebesse. Coloquei as mãos no ombro dele, e ele me perguntou o que estava acontecendo. Eu tentei beija-lô, ele me afastou, e mandou eu parar de palhaçada. Que ódio, que raiva que eu fiquei, esse maldito me paga. Ele ainda vai se render, Ditinho não perde por esperar. Ele vai ser meu também. Não sei o que houve, ele ficava olhando minhas pernas, e eu achei que ele me queria. Vai entender esses homens, são tudo uns presunçosos e orgulhosos. Droga, aquele meu namorado tá me chamando, vou ver o que ele quer.

- Alô, é o senhor Benedito?

- Sim ele mesmo.

- Aqui é do Hospital Sabóia, o senhor deixou seu telefone pra que entrassemos em contato. Parece que seu primo saiu do coma, o senhor poderia vir pra cá no horário das visitas.

- Caraiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii.

Renato Vital é escritor .

17.4.10

Café, mesa e sexo.

Magalhães, tira os óculos, era a senha.

Patrícia se aproxima, entra no carro dele, não diz oi, nem bom dia, nem ao menos se olham nos olhos. O destino? Motel Califórnia, suíte cinco estrelas. Desde a primeira vez que traiu sua esposa, Magalhães se habitou ao ato, mesmo sabendo que era errado. Dessa vez seria com a própria secretária dela. Tudo começou, quando Magalhães chegou mais cedo, na empresa de sua esposa, pra levar ela pra casa. Patrícia estava com as mesmas roupas provocantes de sempre, e olhava pra Magalhães com o olhar malicioso de sempre. As cochas de Patrícia eram extremamente macias e torneadas, e o olhar de Patrícia se parecia com o olhar daquela atriz Brasileira, que trabalha numa emissora de televisão, a Cléo Pires. Foi simples, uma aproximação, falas e desejos de carícias, e estava tudo acertado. Se encontrariam as cinco da tarde na esquina da empresa. Sem medo e sem preocupações. Lá estavam eles juntos naquela tarde de sexta-feira:



- O que seus filhos diriam se soubesse.

- Patrícia, sem causar, ok.



Naquele terno engomado, o tipo exemplo da sociedade, dirige seu carro importado. Ele sabe que a vida não é justa, ele também sabe que sua riqueza, veio através da exploração, claro que sabe. O que ele não sabe, é que a vida também é de todos, mas entre um lucro e um empregado, preferia ficar com o lucro. É só isso, sociedade capitalista, nada marxista, nada comunista, nem socialista, apenas capitalista. Um motel, isso, um motel seria excelente pra tirar o stress da semana. Ah, não levaria a esposa, já foi o tempo em que era um tipo decente, agora era um tipo leviano, leviandade, maldade, malícia, um tipo malicioso ao extremo.



- Qual a suíte senhor? - Pergunta a atendente.

- Quero a melhor que vocês tiverem. - responde Magalhães.

- Alguma coisa pra comer ou beber? - Interroga a atendente.

- Um champanhe, isso um champanhe pra ela, pra mim prefiro um whisky. - responde o patrão, marido da patroa da Patrícia.



Vida. Um item a mais no universo, ou o próprio universo. Se o universo é vida, pra que a tornamos tão díficil e complicada. E por quê o ego e o orgulho, vencem o amor tão facilmente. O homem. Já disse um poeta que: " o Homem é a única espécie do universo, que provoca dor no semelhante pra massagear o ego" . Por quê somos tão egoísta, por quê vivemos em busca de respostas, quando ainda nem sabemos formular as perguntas.



- Nossa Ma, adorei esse quarto, não vejo a hora de colocar a lingerie que comprei especialmente pra você.

- Patrícia, não sou muito de ter intimidades com as pessoas que saio, mas eu gostaria de saber, seu namorado, você ainda namora não é?

- Sim, claro que namoro, por quê a pergunta.

- Por nada, só queria saber se alguém é tão cínico como eu.

- Desse jeito, a gente vai brochar antes de começar, olha, esquece tudo isso tá, a gente só veio se divertir, eu trato bem sua esposa, àlias eu adoro ela, mas não tem nada de mais, sei lá, entende.

- Entendo Patrícia, fica tranquila, que não sou de amarelar aos 45 minutos do segundo tempo.

- É mas o funcionário da sua esposa é.

- Por quê?

- Eu juro, que a gente estava sozinho, eu seduzi ele, e ele nem correspondeu, acho que ele é viado, sabe.

- Não, as vezes ele ainda respeita a mulher dele.

- Eu prefiro a opinião que ele é gay.

- hahahahhaha, você é sem vergonha.

- Claro, se eu não fosse, não teria saído com você, é claro.



As atitudes variam de pessoa pra pessoa. Tem pessoas que traem por opção, por virtude, por desculpa ou por diversão. Tem pessoas (a minoria) que não traem, por falta de oportunidade, por respeito, por atitude, por bondade, por piedade e também não traem por que tem amor pelo outro. Ninguém na terra, fala por ninguém, ninguém nunca vai ser capaz de julgar seu semelhante, mas ninguém é bobo, e na terra aonde o bobo já não existe e o caipira virou country, tudo acontece e tudo não acontece. Depende do ponto de vista que você olha.
Magalhães e Patrícia saem do motel, Magalhães deixa Patrícia em casa, que pede pra ele entrar, mas ele diz estar bastante exausto já. Ele vai pra casa, afim de levar sua esposa pra jantar, e ela liga pra seu namorado. Hipocrisias e Cinismos a parte, a vida continua.

Renato Vital é escritor.

14.4.10

Rap Festival

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11.4.10

Space Night Club, minha casa ou minhas primas.

- E ai o que acha da minha oferta, vai ter todo esse corpinho, todos os anos de sua vida, eu sou novinha ainda, tenho apenas 21 aninhos, vai poder me desfrutar por muitos anos Osvaldo.
- É, minha mulher, minha mulher não é mais a mesma, mas ainda funciona né.
- Sim Osvaldo, e agora que ganhou na loteria, não tem por quê ficar com ela, me leva contigo pra Búzios, ou sei lá, que lugar a gente vai?
- Não sei, to em dúvida, e minha família?
- Ah, você manda dinheiro pra eles, você tem de sobra agora que é rico.
- Fala baixo, quer que todo mundo saiba, e me mate pra eu não desfrutar da grana.
- Desculpe Osvaldinho. Osvaldinho me leva contigo!
- Tenho que pensar minha flor.
- Vou te mostrar um negócio, vem cá no cantinho do bar...
- To indo...
- Gostou, comprei hoje, só pra você.
- Nossa que lingerie deliciosa, adoro fio dental.

Osvaldo vai com a Berlinda pro quarto, acende a luz, tira a roupa. Ela também fica nua, Osvaldo cai babando em cima dela. Berlinda é maliciosa, se esquiva, chantageia, catimba, joga o verde pra colher o maduro, fica na espreita.

- Calma Osvaldinho, promete que me leva contigo, ainda hoje?
- Prometo, prometo, vamos com isso agora.
- Claro gatinho.

O quarto começa a pegar fogo, Osvaldo apesar da idade, ainda aguenta o tranco. Osvaldo se lambuza com a melhor prostituta do cabaré, Osvaldo está feliz.


- Seu pai está demorando né?
- Sim mãe já já ele chega.
- Não vejo a hora de me mandar dessa favela, detesto esse lugar, só vou sentir saudades da igreja que eu sempre frequentei.
- Eu daqui, não vou sentir saudades de nada, não vejo a hora de partir.
- Pois é, será que eu devo ligar pro seu pai, ele tá demorando.
- Iii mãe, agora que o papai tá rico, tá toda protetora né.
- Não menino, eu to preocupada é com ele mesmo, como sempre estive.
- Calma cocada, to brincando só, mas eai, e os nossos móveis?
- Acorda menino, isso tudo vou deixar pra minha mãe vir pegar, só quero coisa nova.
- Vai com calma mamãe.


Quarto do Space Night Club...

- Eai Osvaldo, quando se passa pra me pegar.
- Vou em casa, pegar tudo o que conseguir, minhas roupas, algumas só, ai passo pra te pegar.
- È mas, coitada da sua esposa, manda pelo menos a pensão pra ela, se não a coitada pode morrer de desgosto.
- Sim claro, já pensei nisso tudo, minha flor.
- E então vamos morar aonde Osvaldo, quero tudo do mais lindo, do mais refinado, do mais luxuoso, do mais...
- Do mais caro né.
- Sim meu amor, quero tudo o que nunca tive.
- Sim, mas e meu ciúmes como é que fica, ontem mesmo você levou outro pra cama, bem na minha frente.
- Osvaldinho, isso são águas passadas, e outra, é minha profissão, álias, era.
- Sim, me espera as três da madrugada, aqui em frente mesmo, eu passo pra te pegar.
- Só tenho uma dúvida.
- Qual?
- E seu namorado?
- Qual? Aquele bastardo? Já terminei com ele ontem, ficou lá choramingando, me cobrando favores, que ele me ajudou quando cheguei em São Paulo, que me deu abrigo, que me arrumou emprego, apesar de eu não ter ficado nele. Enfim ficou chorando aos meus pés, mas sabe como é né, ele não tem mais nada pra me oferecer.
- Ele tá bem, digo, está tudo bem?
- Está sim, pode deixar.
- Olha toma cuidado viu, tudo bem.
- Osvaldo, vou lá me arrumar tá, vou pedir as contas pra Margarida, e me mandar desse lugar podre.
- Olha que o Alfredo num vai gostar heim.
- Aquele verme, não devo nada pra ele, só por que é PM, fica se achando, só por que anda armado acha que é o tal.
- Certo vou indo então, minha flor.
- Tudo bem, até as três viu.
- Até lá.

Ditinho vem subindo a rua, e cruza com Osvaldo. Eles se cumprimentam, mas não são de se falar muito. Osvaldo chama Ditinho, tem algo a dizer pra ele.

- Fala Osvaldo, anda sumido, nunca mais foi jogar sinuca com a gente.
- Pois é meu bom, tava viciado a colar no Space, sabe como é né, minhas meninas precisa se sustentar, e eu ia lá pra dar algum pra elas.
- Sei como é, puteiro não é muito a minha cara não, mas a tentação é grande mesmo.
- Se é meu caro.
- Osvaldo.
- Fala meu caro.
- Todo mundo anda dizendo, que você enriqueceu, e que vai sumir da quebrada, é verdade?
- É nada meu amigo, to duro como sempre, durinho da silva.
- A, o zé povinho só inventa mesmo né.
- Com certeza.
- E seu primo como anda, tá melhor?
- Tá na mesma, mas tenho fé que vai melhor.
- To torcendo por isso.
- Valeu meu amigo.
- Então Ditinho vou indo nessa, até mais viu.
- Até mais Osvaldo.

Osvaldo caminha em direção de sua casa, dá graças a Deus que vai sair daquele bairro, e outra, vai ter carne nova todos os dias, a sua disposição. A Flor era uma mulher surpreendente, gostava de levar os homens ao delírio. Vai lhe dar tudo do bom e do melhor. Quem sabe um Apê de frente pro mar, seria uma boa pedida.

- E Osvaldo demorou, e então vamos?
- È pai, vamos embora, tem dois dias que você ganhou na loteria, a gente tá dando sopa aqui, vamos embora, rápido.

Osvaldo sente um frio na espinha, algo estranho a invadir sua consciência, aquele famoso peso na consciência. Osvaldo se lembra de quando se casou, sua mulher era virgem, se entregou pra ele, apenas depois do casamento. Ele se lembra que era mulherengo, mas mesmo assim ela gostava dele, o aceitava do jeito que era. Mesmo depois que nasceu seu primeiro filho, mesmo depois que a situação estava caótica em casa, mesmo assim, ela nunca o abandonou. Aquela mulher de saia vermelha, sorriso humilde, e semblante de sofrimento, sempre o apoiava, mesmo quando estava com raiva dele. Osvaldo se lembra de sua filha, que estava na casa de alguma amiga, esperando o papai, passar pra pegar ela, pra ela virar uma princesa, em algum castelo por ai.
Osvaldo se encaminha pra porta, está com uma mochila nas costas, vai abandonar a família. Osvaldo observa sua esposa, lavando sua última louça, seu filho arrumando sua última mala. Ele dá mais um passo, em direção a porta, e quando abre ela, sua filha chega correndo.

- Vamos papai, demorou, vamos embora logo. Não vejo a hora de chegar na nossa nova casa. Que alegria, que emoção, vou ter um quarto só pra mim.
- Tudo bem então, vamos, podem ir entrando no carro.

Osvaldo abre sua carteira, tira uma pequena foto, de uma mulher seminua. Osvaldo rasga a foto, e arremessa no lixo. Uma porta se fecha atrás de Osvaldo, seus filhos o esperam dentro do carro, sua esposa também. Ah, aquele velho Passat, quantas idas a represa com sua família. Legal foi quando desceram pra Praia Grande, se não fosse o guarda-vidas, Osvaldo teria batido as botas, bebeu tanto, que se esqueceu que não é peixe. Osvaldo liga o carro e parte, parte pra outro lugar, pra outro bairro, pra outra realidade, afinal, aquela comunidade pra ele, não tinha jeito. Osvaldo diz consigo mesmo:

- Adeus Vila Gumercinda, até outro dia.

Frente do Space Night Club, três horas da manhã:

- È hoje que eu tiro o pé da lama, aquele pança de chopp vai me levar pra ser rainha. Bem que eu sabia, uma hora meu dia ia chegar. A Flor vai virar um Jardim agora, vou ser bem recebida nos melhores hotéis, e motéis, enfim, em qualquer lugar que for. Será que vou pro Resort que fica em Búzios primeiro, ou é melhor ficar em Foz do iguaçu por alguns dias. Não sei, só sei que na primeira oportunidade, acabo com a raça daquele infeliz do Osvaldo, e me mando com a grana pra bem longe.

Flor era uma prostituta simples, com o corpo bonito, o rosto esbelto, e muitos sonhos na cabeça. Veio pra São Paulo aos 16 anos, pra morar junto com um tio, irmão de sua mãe. Deixou Pernambuco, pra viver um sonho na cidade grande, ser modelo, ou então trabalhar numa grande empresa. A casa de seu tio não era muito grande, mas ela podia dormir na sala, enquando a esposa de seu tio, ele, e seus dois filhos dormiam no quarto. Certo dia, notou um olhar estranho em seu tio, ele observava as pernas dela. Com o tempo começou a encoxar ela na pia da cozinha, jogar indiretas, procurar ficar sozinho com ela em casa. Até que um dia, aproveitando o sono de sua esposa, agarrou ela na sala, rasgou sua blusa, e tentou chupar seus seios, ela se esquivou e saiu correndo, se trancou no banheiro e ficou chorando por horas. Depois que seu tio tentou estrupa-lá, ficou com medo, mas não tinha pra onde ir. Certo dia ele chegou bêbado em casa, pegou uma faca e tentou intimidar ela, pra que tirasse a roupa. Ela se esquivou, e na hora chegou a esposa dele. Ele mentiu e disse que ela estava o seduzindo, ela foi expulsa de casa, e começou a perambular pelo centro de São Paulo. Com o tempo arrumou emprego num restaurante japonês, e vendo que estava sendo escravizada, num belo dia, roubou tudo o que pode, e sumiu no mundo de novo. Até que conheceu Margarida num forró risca faca, que a levou pra trabalhar de garçonete em sua casa noturna. Com o tempo, ela viu como única opção pra ter algo melhor, a prostituição, e como vivia sendo cantada, vendeu sua virgindade pra um empresário, que pagou bem menos que o combinado. Dali pra frente sua vida, era só a prostituição de noite, e de dia vagar por ai. Ela gostava de ir pra pracinha, ficar olhando seu sonho passar por ela, seu sonho se chamava casamento e um amor, um amor pra curar suas dores mais profundas. Arrumou um namorado, que a ajudou no começo, prometeu lhe dar uma casa bonita, uma família, uma vida, mas era só mais um bêbado vagabundo, que batia na mulher quando chegava em casa. Um futuro incerto com certeza. Até que um dia conheceu Osvaldo, que virou seu cliente de carteirinha, e sempre prometia pra ela mundos e fundos se um dia ficasse rico. Flor está parada na esquina, aonde fica o Space Night Club, vê um homem bêbado se aproximar dela, e quando ele chega mais perto, ela o reconhece:

- O que você quer, já não disse que acabou?
- Vim te buscar, vamos pra casa.
- Não, estou esperando Osvaldo, vai me levar pra ser uma rainha como sempre quiz.
- A então você quer ser uma rainha agora?
- Sim.
- Você me feriu Florzinha, volta pra mim, eu juro que nunca mais bebo, nunca mais te agrido, nunca mais.
- Não, nunca mais quero te ver, some daqui.
- Sua vaca maldita, ou você volta comigo, ou vai se arrepender.
- Por quê, você é um merda não é de nada.
- Maldita vagabunda, vai pagar!!!

Flor recebe uma pancada na cabeça, são 03:10 da manhã.
Flor começa a ser espancada, com o sapato de seu ex-namorado, são 03:11 da manhã.
Flor grita por socorro, ninguém a ouve, são 03:12 da manhã.
Flor tenta correr, e percebe uma lâmina invadir suas costas e seus sonhos, são 03:13 da manhã.
Flor está no colo de seu assassino, que chora desesperadamente, mas ela sangra muito, são 03:14 da manhã.
Flor vê a lua, como era bonita a lua, são 03:14 da manhã.
Flor pensa, talvez Osvaldo tenha caído no sono, não demora a chegar, são 03:15 da manhã e ela sangra muito.
Flor ouve uma sirene, que vai ficando cada vez mais alta, são 03:20 da manhã.
Flor balbucia um nome pro paramédico, Osvald,Osvaldo, Osvaldo, seu ex-namorado chora dentro da viatura policial, está algemado, são 03:22 da manhã.
Flor ouve alguém dizer: - Não tem mais jeito, ela já entrando em óbito. são 03:25.
Flor se despede do mundo com um beijo, adeus minha terra, adeus meu amor, adeus Osvaldo, flor ve o mundo do avesso são 03:29 da manhã.
Flor entra em óbito, são 03:30 da manhã.

Renato Vital é escritor.

9.4.10

A hora do Limão

Programa 27 A Hora do Limão

Participações: Sandrão RZO, King Nino Brown, Luter Enigmas de periferia e Moisés Vato Loko.



A hora do limão, o programa mais azedo da internet.

7.4.10

Evangélico ou Católico?

Bela pergunta, fui batizado na igreja Católica, meu pai diz pra todo mundo que os filhos dele vai ser sempre católico. Em respeito a ele, não duvido, nem afronto. Depois de saber dos mais de 15 mil casos de pedofilia na igreja católica, em alguns países da europa, é que firmei mais ainda minha posição, não sou católico, sou cristão. Também não sou evangélico, até mesmo por quê, não quero fazer parte, desse debates que se vê na televisão. Em um canal é o bispo Romualdo ou o bispo Marcelo Crivela, da Universal. Em outro canal é eles também. Muda de canal de novo, ou é a legião da boa vontade, ou é o bispo R.R. Soares ( dias desses minha mulher não me deixou dormir, insistindo pra que eu fosse na igreja do dito cujo). Continua nesse canal e de madrugada você vê o Silas Malafaia, pra quem gosta, todo o meu respeito, pra quem não gosta também. AI você vai mudando de canal, ai tem a Igreja Mundial da Fé, do Bispo Waldemiro Santiago, continuo na mesma proposta, quem gosta, gosta, quem não gosta da as costas, ou vai se embora, e eu mudo de canal. Mas não pare, continue mudando de canal. Se cair na globo, de domingo tem o padre Marcelo Rossi, e de vez em quando o padre José Maria, ou como diz minha mãe, o padre dos artistas ricos.
Quem gosta, gosta, quem não gosta, se esboça, ou então muda de canal, e é o que eu faço. As escolhas religiosas hoje em dia, são bem vastas, na televisão se tem muitas. E você? Evangélico ou Católico?

Renato Vital é escritor.

4.4.10

Pessoa Desconhecida

- Oi.
- Oi.
- Andas preocupado?
- Bom, sim, um pouco, é com o meu amigo sabe.?
- Sei sim, o conheço. É aquele que está internado no Hospital Saboya, não é mesmo.
- Sim, eu não confio naquele hospital, não confio em hospital nenhum, esse sistema falido do caralho, eu não confio! Não confio de jeito nenhum, eles não vão salvar meu amigo.
- Eles talvez não... Mas eu já sei que ele vai se salvar.
- Eu também acredito nisso, mas é díficil sabe?
- Sei sim, sei como é díficil acreditar, naquilo que você não viu, mas pode acreditar, em dois dias ele estará de pé falando com vocês.
- Tenho medo.
- Medo por quê, logo você que é corajoso, já se aventurou em situações tão dificeis, eu lhe conheço bem Benedito.
- Como sabe meu nome?
- Isso não interessa agora.
- Como não interessa, esse lugar aqui pertence a mim, essas àrvores, esses campos, esses rios, essas flores, todo esse gramado, tudo isso pertence a mim, como adentrou em minha propriedade?
- Isso aqui não é seu, não foi você quem criou, você apenas habita esse lugar.
- Mas eu não deixo ninguém entrar aqui, ninguém que eu não conheça.
- Tudo bem Benedito, já vim, já deixei a mensagem. Só gostaria de fazer um pedido antes de partir.
- Qual?
- Quando tudo estiver bem, quando tudo já estiver definido e decidido, numa noite calma, peço que olhe pro céu. Você me verá, e eu terei isso como um sinal de positivo, de que tudo está bem.
- Não, nem tudo está bem. A namorada do Tevez tá traindo ele, aquela vagabunda. Tá namorando com um amigo dele, aquele pilantra safado, Judas traidor, sem vergonha. Mas eu já armei pros dois, no pagode que terá sexta-feira. Meu oitão tá até a boca carregado, os dois vão pagar por tudo o que estão fazendo.
- Guarde a espada na bainha filho de Deus criador. Guarde seu ódio pra seus verdadeiros inimigos. Eles terão o que merecem, mas isso não é você quem vai definir. Mas já que achas que violência é o melhor caminho, vá em frente, você tem o livre arbítrio.
- Sim, eu vou, isso não vai passar batido.
- Tudo bem, já vou indo, mas antes fique com essa mensagem: " O maior segredo está na vida, não procures desvendar segredos do outro mundo, o verdadeiro mistério está aqui!".

Ditinho abriu os olhos, levantou de sua cama, foi até a geladeira pegar um copo d` água, sentou-se numa cadeira. Dormiu assim que chegará do serviço, teve até um sonho, mas não se lembrava direito dele. Só se lembrava de algumas palavras, alguém dizendo que seu primo estaria entre eles em dois dias. Ditinho ajoelhou-se frente a imagem de nossa senhora, e fez uma oração. Foi até a gaveta do guarda-roupa, pegou o celular, discou o telefone da sua namorada. Ela atendeu, e ficaram conversando durante um bom tempo.

Renato Vital é escritor.