22.2.10

Hugo Boy

- Porra mano, onde se arrumou tudo isso.

- Lá perto de casa tem uma biqueira, é só descer umas vielas.

- Vichê cara, se mora na favela? mas se tem cara de boy?

- Ichê mano, tá tirando, boy é você, sua mãe é patroa, e seu pai é magnata jão.

- I cara, deixa meus coroa de lado, o assunto é entre nós dois.

- To ligado, mas num vem dar uma de canalha não, passa a grana pra cá.

- Grana é o que não falta meu irmão, tá aqui ó, cinqüenta reais.

- Assim que eu gosto, até mais playboy...

- Playboy não mano, eu dou um duro danado na vida também.

- Que duro vacilão? Se faz natação, Judô, Inglê e Espanhol, tem shopping center todo final de semana, tem roupa de marca e os carai, se liga mané, você é playboy mesmo.

- Calma, calma irmão, não quiz ofender e tal.

- Calma um carai, sabe quem limpou a merda que você cagava? as tiazinhas, tipo as que tem na quebrada, que limpa bunda de rico. Sabe quem limpa o apartamento duplex que você mora? Pessoas que nem minha mãe, que trabalharam a vida inteira, pra manter o conforto de rico, playboy filho da puta, e agora, não tem se quer um fusca pra andar, isso quando tem o que comer. Então playboy, usa essa porra desse pó, vê se me erra, e se caso quiser mais, liga no meu celular, sacou?

- Calma brother, se tá acelerado hoje, tá nervoso, se acalma ai...

- Brother o caralho, num sou seu irmão, não sou irmão de vacilão que nem você.

- Tá certo então, tirou o dia hoje pra esculachar.

- Você que começou, fica de boa na sua então, que eu tenho uma fita pra fazer ainda hoje lá na quebrada. È parada grande, não é pra qualquer otário não firmeza.

- Falou então, que agora eu vou esticar essa daqui.

- Falou mané.



Hugo boy pensa em sua mãe, Simone, que lhe criou com mimos e agrados, apesar de nem sempre lhe dar atenção, e em seu pai, um magnata que poucas vezes lhe olhou com afeto e saiu junto com ele pra brincar no parque. Hugo se lembra também de sua irmã, estava virando uma vadia que nem aquelas minas, que tinham em sua escola.

Hugo se lembra de sua vida, cheia de compromissos, mas que ele sentia tão vazia.

Estica uma carreira de cocaína, afina a carreira com um cartão, e com uma nota de dez enrolada no formato de um canudo, começa a inspirar o pó pra suas narinas. Ele inclina a cabeça pra trás, e agora parece estar em outro mundo. Hoje resolveu usar sozinho, a maioria de seus colegas, que usavam com ele, muitas vezes só queriam se aproveitar de sua boa vontade.

Hugo ainda tinha uma tarde pela frente, eram apenas três horas, e ele já estava completamente alucinado. No final das duas cápsulas que usou, estava brisado, se escorou numa parede, e ficou olhando pro teto, tentando encontrar respostas para as suas mais complicadas perguntas.

Saiu do local onde estava, e começou a caminhar pelas ruas, daquele bairro nobre, caminhou a tarde inteira sem eira nem beira. Quando se deu conta já eram sete horas da noite, hora de voltar pra casa, tomou o rumo de casa. Seus pais ainda não estariam lá, só sua irmã, mas ela ficava grudada no telefone o tempo inteiro, falando asneiras com suas amigas, ou então, falando abobrinha com algum macho.

Chegou em casa, passou pelo quarto de sua irmã, que estava pendurada no telefone, entrou no seu quarto, pegou seu mp12 e começou a escutar rock´roll no último volume.
Hugo queria mais, qual desculpa dar agora: " Mãe, a professora pediu um trabalho de última hora, me arruma vinte reais. " ou então " Mãe, preciso comprar um tênis novo.".
A última opção não era muito boa, pois ela poderia querer comprar no cartão, e no cartão não daria pra comprar o pó. Reco-Reco com certeza lhe mandaria tomar no cú, se pedisse fiado. Viu a mochila da irmã jogada em cima do sofá, a espreitou dentro do quarto, estava só de calcinha e sutiã, com a bunda empinada e falando besteiras com as amigas. Hugo achava sua irmã atraente, mas sempre que vinha esse pensamento na cabeça dele, ele virava o rosto e pensava em outra coisa.
Aproveitou que sua irmã estava distraída, e começou a fuçar na mochila dela. Enfim conseguiu o que queria, achou dez reais no bolso exterior da mochila, escondeu os dez reais, caminhou lentamente até o seu quarto e fechou a porta. olhou a nota de dez reais e vibrou por ter conseguido, o dinheiro pro pó do dia seguinte.

Renato Vital é escritor.

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